sexta-feira, 19 de abril de 2013

terça-feira, 20 de novembro de 2012

terça-feira, 3 de julho de 2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Elogio de Maria Teresa


Eu que às vezes encontro sem saber porquê
um simples não sei quê em estátuas retratos antigos
de límpidas mulheres desconhecidas
eu que de súbito à primeira vista me apaixono adolescentemente
por essas mulheres mortas mas contemporâneas
de um pobre poeta português do século vinte
levadas até ele talvez por um discreto gesto
às formas e às cores impresso por um homem
que na arte encontrava a única razão de vida
abro a pasta e deparo com o teu retrato
um retrato de passe anos atrás tirado
no sítio suburbano onde primeiro vivemos
e juntos suportámos com surpresa a solidão
de sermos dois e ela só vergar os ombros onde os dias nos poisavam
Conheço outros retratos teus onde também estás viva
um deles bem me lembro estava à minha espera em saint-malo
uma tarde ao voltar do monte saint michel
nesse verão bretão onde então procurava
justificação por mínima que fosse para a vida
numa das muitas fugas de mim próprio
que às vezes empreendo embora antecipadamente certo
de que só pela morte enfim me encontrarei comigo
com todos quantos verdadeiramente amei
alguns desconhecidos e alguns mesmo inimigos
sobretudo sedentos de justiça
de que depois somente de bem morto hei-de dispor daquela paz
que sempre apeteci mas nunca procurei
até por não ter tempo para isso nem sequer para saber
coisas simples como saber quem sou porque ao certo só sei
que muito mais passei naquilo em que fiquei
nem que fossem os filhos ou os versos
que fiquei muito mais naquilo onde passei
como passos na areia no inverno ou repentinas sensações
de me sentir de súbito sensivelmente bem
encher o peito de ar sentir-me vivo
São retratos diferentes de quem foste um breve instante
e nele floriste e apenas não murchaste
por haveres ficado um pouco mais em tais fotografias
Mas há em todos eles uma graça inesperada
a surpresa da corça ou restos dessa raça
que há em ti talvez um pouco mais que nas demais mulheres
expressão sempre surpreendente da surpresa
mesmo até para quem te conhece tão bem como eu te conheço
Se nuns mais do que noutros sem excepção desponta
a madrugada que era e é esse teu riso claro
quem primeiro falou de riso claro
talvez houvesse ouvido a água quando corre sobre os seixos de
um ribeiro
talvez a houvesse visto branca e fresca
mas teve de inventar pra conquistar essa metáfora
quando eu que te ouvi rir não fiz mais do que ouvir
e sei que o som da água imita o teu sorriso
Talvez dentro de séculos se não fale já de ti
coisa aliás sem maior importância
que a de não ter alguém deixado o teu retrato
em qualquer dos museus esparsos pelo mundo
Eu estarei morto e pouco poderei fazer
por ti simples mulher da minha vida
Mas isso não importa importa esta manhã
este bar de milão onde olho o teu retrato
enquanto espero o meu pequeno almoço
saboreio as cervejas em jejum tomadas
e começam de súbito a chegar aos meus ouvidos
inesperados os primeiros acordes do concerto imperador
Se um dia penso porventura te perder
mulher simples recôndita e surpreendente
sobre quem recaiu o peso do meu nome
só então saberei quanto valias verdadeiramente
Estás presente em mim como ninguém
e sabes quão terrivelmente amei e amo outras mulheres
além de ti além de minha mãe
Mas tu tens o meu nome clara rilke tu trocaste
a tua alegre vida irrequieta
no único infeliz dos teus negócios
por um poeta pobre velho e feio como eu
Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhaste súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já hoje a minha única viúva
Não posso dar-te mais do que te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente
Bons dias maria teresa até depois
preciso de tomar o meu pequeno almoço
a cerveja era boa mas é bom comer
como come qualquer homem normal
e me poupa ao perigo de até pela idade
me converter subitamente num sentimental.


Para Maria Teresa Belo. Todas as vidas de Ruy Belo.

in Nau dos Corvos

Tua,

Eterna Maria.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

birdy


«One last black bird without a place to land
One last black bird without a place to be
Turns around in hopes to find the place it last knew rest
(...)
If you could only stop your heart beat for one heart beat.»

Fora já 26 de Abril, para em ti re(-)pousar, Maria *

terça-feira, 15 de maio de 2012

Connosco, há um passado, um presente, mas sobretudo um porvir, meu amor :)



Amar

Lembro-me, já sem ter outra prova senão perguntar-te e tu concordares.

Lembras-te?

Foi encantador termos encontrado uma procissão de caracóis em Roma.

No Egipto tudo me pareceu queimado e triste e tu disseste que afinal não tinha sido grande ideia querer ver o que sonhávamos ser o Nilo.

Em Florença tivemos uma insónia histórica,

e no Japão brincámos como crianças sob as amendoeiras em flor.

Se tu disseres que sim eu sei que fomos exactamente assim.

(poema de Alphonse S.)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Nós (ou; O Presente e o Futuro)


Maria, meu amor, minha vida inteira.

Nada devemos ao mundo senão nós mesmos. Escrevo-te por isso mesmo. Não que estejamos em dívida, mas sim porque nos devemos, também a nós, cobrar a vida inteira. Maria, tanta vida temos já para contar... E tanta mais havemos de ter.

Noivámos como o Camilo nos pediu, como já não se faz. Amor, quero casar contigo. Casar de verdade, de papel, de «Sim, quero.», de vestido branco, de festa de Família, e tudo.

Quero a nossa casa em Ferreira, quero os nossos petizes correndo pelo pátio, trepando a laranjeira. Quero-nos brincando com eles na Costa, a fazer casas nas árvores. Quero-nos ao Sol, lendo ao entardecer. Ouvindo músicas que nos fazem sorrir e apertar as mãos e os dedos um do outro, nem que seja levemente, quando trocamos o olhar. Quero que nos tenhamos em Casa.

Meu amor, devemo-nos tanta arte e tantas viagens. Tanta vida, e bicicletas, e Paris. Devemo-nos tanta Casa, Maria. Tantos abraços.

Não é envelhecer, amor, é viver.

Maria João Isidro Guerreiro, casas comigo?

quarta-feira, 21 de março de 2012

primavera

é primavera, amor, e tenho tantos planos para nós... daqueles bonitos, de praias, e ervas, e rochas e mar. sonhos de alentejos.

é primavera, amor. uma vida inteira de primavera.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Fiançailles: uma promessa de uma vida inteira



Manhã clara no Jardim das Amoreiras. Da mesa da esplanada do quiosque, é fácil imaginá-los ali sentados a conversar ou a descer a rua abraçados, vindos da casa que tinham ao virar da esquina, no Alto de São Francisco.

Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes pareciam quase sempre um casal de namorados, mesmo quando ele estava no Rio de Janeiro e ela num navio a caminho de Dacar, mesmo quando ela passava temporadas em Lisboa a aborrecer-se com conversas de sala depois do jantar, e ele em Paris, entre amigos e telas na casa do Boulevard Saint-Jacques e no atelier da Avenida Denfert-Rochereau.

Ler parte das dezenas de cartas que escreveram um ao outro durante os 55 anos em que viveram juntos é entrar na sua intimidade, perceber de que se ocupavam quando não estavam a pintar, o que os preocupava quando se separavam.

"Hoje, ao olhar as tuas fotografias, gostei tanto de me lembrar de nós no ateliê a cozinhar. Eu abraçava-te apaixonadamente e a fotografia ficou com o sabor da mousse de chocolate. Adorava ver-te mesmo de longe", escreve-lhe Arpad em Março de 1947, num período em que Vieira regressa a Paris e o pintor húngaro fica no Rio de Janeiro, transformando o ateliê que partilhavam em Santa Tereza, bairro boémio de casario português e muitos artistas, na sua "gruta tropical".

"As cartas entre a Vieira e o Arpad quase não falam de pintura. O que ali vemos é a vida a acontecer".

Pelo nosso laço, meu amor, da fibra do amor das grandes almas, dos grandes artistas, dos grandes amantes. Amo-te. Amo-te desde o primeiro instante. E para sempre.

sexta-feira, 2 de março de 2012

roma

(fotografia de Luccaro)

(para roma, com amor, dois anos depois. ter-nos-emos em villa borghese, como o belo * )